Acordei no outro dia com o sol já bem alto no céu. Deveriam ser quase meio dia. Dei mais uma espreguiçada antes de me levantar de vez da cama. Passei as mãos em meus cabelos e vi que eles estavam bastante bagunçados. Também pudera, tive uma noite turbulenta cheia de pesadelos. Mas como de costume eu não me lembrava o que eu havia sonhado, apenas sabia que meu pai e o detestável dono do castelo estavam nele.
Enquanto desembaraçava meu cabelo com os dedos, eu observava a vista da janela. O céu estava limpo, e o sol brilhava intensamente. A floresta ao redor do castelo, no entanto, estava rodeada de névoa, e as folhas das árvores estavam amareladas e caindo. O outono chegara, e logo seria inverno. Eu odiava essa época do ano, preferia o verão e a primavera com seu sol e flores.
Percebi que minha janela dava para a parte de trás do castelo. Lá embaixo havia uma espessa plantação, logo após um galinheiro, um grande celeiro e um pomar que se estendia por vários quilômetros, a ponto de eu não poder ver os muros que circundavam o castelo. Alguns empregados estavam na plantação. Uns colhiam algumas verduras e outros plantavam. Uma jovem saia dentre as árvores do pomar e retornava com uma cesta cheia de laranjas, peras, cerejas e mais algumas frutas, muito pequenas para que eu pudesse identificar. Outra saia do galinheiro e caminhava rumo ao castelo com uma cesta carregada de ovos.
O castelo aparentemente tinha bastante empregados, mas uma coisa havia me chamado a atenção: todos tinham o semblante triste. Realizavam as tarefas como se fossem almas penadas, sem realmente terem vontade ou ânimo e com um semblante triste e amargurado.
Enquanto eu refletia sobre o comportamento infeliz dos empregados, ouvi leve batidas na porta e logo ela se abriu.
– Oh, está acordada, que bom. – disse uma Alice bastante sorridente carregando uma bacia com um jarro dentro. – Vim te preparar para levar você para conhecer o castelo. Te explicarei como as coisas funcionam por aqui e logo depois iremos almoçar, afinal já são quase meio dia. – ela disse colocando a bacia em cima da penteadeira e colocando um pouco da água que havia no jarro dentro.
– Obrigada. – eu disse me sentando na pequena cadeira e lavando o rosto.
Alice me entregou um pano para poder me secar e logo depois ela pediu para que eu me aproximasse mais da bacia para molhar os meus cabelos. Eu fiz o que ela pediu e ela logo despejava a água morna. Ela tirou o excesso de água com um tecido e logo após isso penteou os meus cabelos.
– Quer que eu faça uma trança? Um coque? – ela me perguntou olhando-me através do espelho.
Ela tinha em seus lábios e sorriso gentil, mas agora, com a luz do dia, eu podia lhe analisar melhor e percebi que seu sorriso não chegava aos seus olhos. Ela tinha profundas olheiras, sua pele era extremamente pálida e os lábios coloridos artificialmente. Mas o que mais me intrigava era a sua expressão. Ela exalava infelicidade, tristeza e desânimo. Seus olhos não tinham brilho, pareciam estar mortos.
Senti um arrepio ao pensar assim. Será que eu também ficaria desse jeito? Todos nesse castelo eram tristes e infelizes? Isso seria culpa do senhor Edward? Ela passou as mãos em seus cabelos presos em um coque nervosamente ao perceber que eu a analisava. Corei de vergonha pela indelicadeza e sorri para ela.
– Não, gosto deles soltos. Pode deixar assim.
– Tudo bem, é bom que assim secarão rápido. Venha, vamos por um vestido. – ela disse e foi em direção ao grande armário de madeira.
Ela o abriu e de lá tirou um vestido vinho com detalhes em dourado. Mostrou-me o vestido e olhou sorrindo para mim.
– O que acha? Esse é bonito, não é?
– É sim, muito. Nunca usei nada tão fino. – eu disse reparando no tecido caro.
– Ficará ótimo em você. Quer ajuda para vesti-lo?
– Oh, sim, por favor. Eu sempre me atrapalho na hora de fechá-lo. Vou precisar de sua ajuda com o espartilho se não se incomoda.
– Ah, não Bella, não precisará de um espartilho. Veja, esse é um modelo antigo, assim como o meu vestido. – ela disse mostrando seu vestido rosa claro. – Esses vestidos não se dão bem com espartilho.
– Por que usam modelos de roupas antigas? – eu disse não contendo minha curiosidade e a olhei um pouco envergonhada pela intromissão.
– Bem, digamos que nossa modista não sabe como são os modelos novos. – ela disse sorrindo nervosamente.
– Se me permite perguntar, porque não compram de fora ou trocam de modista? Não gosta dos novos modelos?
– Oh, não, pelo contrário. – Alice disse e seus olhos por um segundo brilharam mostrando que ela era apaixonada por roupas como toda menina de sua idade.
Menina? Deus, não entrava na minha cabeça que Alice já era uma senhora casada e não mais uma menina.
– Mas acontece que temos a nossa modista há tantos anos, ela mora no castelo e seria indelicado trocá-la, para não dizer desumano já que ela não tem para onde ir. – Alice disse forçando um sorriso e novamente tive a sensação de que algo a mais se passava. – Agora vamos, vista-se, temos um castelo para visitar.
...
Depois de me trocar, eu e Alice andávamos pelo castelo. Caminhávamos tranquilamente ao longo do extenso corredor e notei que já não mancava mais como antes. Estava bem melhor.
Notei também que todas as cortinas estavam fechadas e as velas dos candelabros acesas por causa da escuridão.
– Por que está tudo fechado e nessa penumbra? Não preferem a luz do sol? – eu disse já me sentindo mais a vontade em falar com Alice sem me preocupar em ser indelicada.
– Oh, bem, Edward prefere assim. Deve sempre deixa-las fechadas, nunca as abre. Isso seria catastrófico. – Alice disse e ela me olhou seria.
Eu não entendia bem o porquê disso, a luz do sol nunca fez mal a ninguém, mas eu não iria discutir pois sabia que tudo o que aquele homem rude dizia deveria ser obedecido, mesmo que não tivesse lógica.
– Tudo bem, não irei tocá-las. Mas fico contente que tenham mantido as velas acesas, ontem à noite estava tudo tão escuro.
– Bem, não temos costumes de ter visitas, e sempre nos recolhemos cedo, por isso as velas já estavam apagadas.
– Visitas? Acha que sou uma visita? – a olhei escandalizada.
– Sim, nossa convidada. – uma mulher alta, loira, de uma voz muito doce e traços fortes disse se aproximando.
Ela era muito pálida, tão pálida quanto Alice, e seus olhos também eram daquele estranho tom ocre. Ela usava um vestido vermelho vivo e seus lábios também eram de um vermelho. Seus cabelos eram longos e estavam trançados, seu olhar era firme e frio apesar de carregar um sorriso. Não conseguia dizer sua idade, mas parecia ter 23 anos.
– Bella, essa é minha irmã mais velha, Rosalie. – Alice disse com o seu sorriso triste já tão comum para mim.
– Muito prazer, senhorita. – eu disse dobrando meus joelhos levemente.
– Oh, por favor querida, me chame de Rose. Além do mais, assim como Alice sou uma senhora casada. – ela disse e sorriu levemente e vi que Alice não era a única a carregar aquele sorriso triste.
– Sim claro, me desculpe.
– Tudo bem, não faz mal.
– Rose, disse que sou convidada, mas receio que isso não seja verdade.
– Bem, faremos o máximo para que se sinta como nossa convidada. Tornará as coisas mais fáceis. – Alice disse me dando um sorriso carinhoso.
Ousei olhar rapidamente para Alice e Rosalie as comparando. Elas não eram parecidas para serem irmãs e estranhei.
– Perdoe-me, mas são tão diferentes. Nem parecem irmãs. – eu disse corando pela ousadia.
– Bem, eu sou fruto do primeiro casamento de meu pai. Minha mãe morreu ao dar a luz a Edward. Sou a mais velha dos irmãos, Alice é a caçula, fruto do segundo casamento.
– Oh. – foi a única coisa que pude dizer.
– Venha querida, temos muito a lhe mostrar. – Rose disse e voltamos a caminhar pelo castelo.
Descobri que Rosalie e Alice eram ótimas companhias, mas me sentia mais a vontade com Alice que era mais solta e delicada. Rose era um pouco mais fria e quase não sorria. Andamos por quase todo o castelo, visitamos o pomar, a plantação e fiquei com muito entusiasmo quando vi os arbustos de blueberry e amoras. Visitamos o celeiro e descobri que atrás dele havia um estábulo com vários cavalos negros lindos e ao lado estava a carruagem que havia levado meu pai embora.
Sem perceber, lágrimas começaram a descer por meu rosto e senti um corpo frio abraçado a mim. Era Alice, ela afagava meus cabelos enquanto Rose segurava minha mão.
– Bella, porque choras? – Rose disse me analisando.
– Meu pai foi levado por essa carruagem. Sinto tanta falta dele. Será que ele está bem?
– Garanto que está sim, meu marido foi quem o levou para cidade. Se quiser pode falar com ele depois e perguntar como seu pai estava quando foi deixado lá. – Rosalie disse sorrindo um pouco.
– Como vocês puderam deixar que isso acontecesse? Não se importam com o que houve? – soltei sem querer ressentida e logo depois me arrependi. – Perdoem-me, eu...
– Não temos escolha Isabella. – Rosalie disse me dando um olhar triste e frio.
Logo depois ela se virou e foi em direção ao castelo sem nada a dizer. Acho que fui muito rude, só isso explica seu comportamento hostil. Mas o que ela queria dizer com aquilo?
– Sinto muito, eu não queria...
– Shhh, deixe para lá Bella. Rose deve ter ido ver como anda o almoço. Venha, vamos continuar.
Continuamos a andar pelo castelo. Alice me mostrou vários lugares, como a sala de música, o salão de festas, os quartos dos empregados, os seus aposentos e o de Rose, mas não cheguei a conhecer a ala oeste, onde era os aposentos do senhor Edward, pelo que tudo indicava.
– Senhora Alice, desculpe incomodá-la, mas seu marido a está chamando no salão de jantar. – uma jovem alta, de cabelos pretos presos por um coque disse olhando para baixo.
Percebi que era uma das jovens que levou baldes de água quente para meu quarto.
– Obrigada por avisar Carmem. Bella, vou ver o que meu marido quer. Pode continuar inspecionando o castelo se quiser. Volto logo. – dizendo isso Alice se retirou descendo as escadas ali perto.
– Graças a Deus que a senhorita está aqui. – a jovem Carmem disse me dando um sorriso sincero.
– Por favor, me chame de Bella. – eu disse me simpatizando com a jovem.
– É melhor não, o senhor Edward não gosta que os empregados tratem informalmente seus convidados. – ela disse e vi medo e tristeza em seus olhos.
Todos ali pareciam ser tão tristes, solitários, amargurados, frios. Gostaria de saber o que houve para serem assim. Será que eu ousaria investigar? Talvez não seja uma boa ideia. Notei que Carmem não tinha uma pele pálida como seus senhores, pelo contrário, era levemente marcada pelo sol.
– Fico contente que esteja aqui senhorita. Esperávamos por isso há tanto tempo. Talvez haja esperança afinal. – ela disse baixinho a ultima parte e me olhou com certo brilho nos olhos castanhos que não pude identificar.
– Do que fala Carmem? – perguntei curiosa.
– Oh, nada senhorita, nada de importante. Bobagens apenas. Se me der licença, tenho que colocar a mesa para o almoço. – dito isso ela se curvou levemente e logo depois se retirou, descendo rapidamente as escadas.
– Estranho. – murmurei enquanto observava a silhueta de Carmem sumir.
Continuei andando pelo castelo, mas logo me via entediada. Não gostava de caminhar por aqueles corredores sombrios sem companhia. As gárgulas e demônios estavam por todo canto me dando calafrios. O ambiente seria bem melhor com um pouco de luz do sol. Será que faria mal abrir um pouco as cortinas? Alice havia me alertado para não fazer isso, mas acho que uma fresta não faria mal a ninguém.
Fui em direção a uma das gigantescas janelas e empurrei um pouco a cortina para o lado. Não pude ver direito através dos vitrais pois eram demasiadamente enfeitados com imagens demoníacas. Pelo menos um pouco de claridade passava, e isso me transmitia uma sensação de conforto.
– O que pensa que está fazendo? – uma voz grosseira, carregada de raiva disse atrás de mim. Era ele, claro.
Eu me voltei para ele e o encontrei em meio a uma penumbra proporcionada por uma estátua retorcida. Nada consegui dizer, estava estupefata com sua beleza. A pouca luz que entrava permitia-me olhar melhor para ele, e não havia nada mais belo que eu já tivesse olhado. Ele possuía traços perfeitos, como se tivesse sido esculpido por mãos divinas. Seus olhos brilhavam na escuridão, sua pele parecia mármore de tão clara e perfeita, seus lábios e seus cabelos pareciam convidar-me para tocá-los. Seu cheiro me atingiu pela primeira vez em cheio, era doce e sensual, e suas vestes eram totalmente negras, como na outra noite, e isso destacava ainda mais a sua pele perfeita. Mas o meu deslumbramento e encanto foram quebrados quando vi a raiva em seus olhos rodeados por profundas olheiras.
– E então? Não te disseram para nunca chegar perto das cortinas? – ele disse ríspido.
– Sim, m-mas é só um pouco de sol. – disse tentando soar firme e logo depois tremi tamanha a fúria que me olhava.
– Não me importa o que acha, senhorita mal educada. Você deveria ter obedecido! FECHE ESSAS CORTINAS! – ele bradou e tive a impressão de que ele havia dado um leve rugido.
Assustada, eu me virei para as cortinas e as fechei desajeitadamente. Quando voltei a me virar, ele se encontrava a centímetros de mim e me olhava com fúria, seus olhos estavam curiosamente avermelhados e isso me fez tremer de medo.
– Quando algo é lhe dito para fazer ou não fazer é esperado que obedeça. Estamos entendidos? – eu assenti rapidamente respirando rápido por causa do susto. – Ótimo, espero que isso não se repita ou teremos problemas. Não quer parar em um calabouço, quer? – ele disse me olhando zombeteiro e aquilo me irritou, mas tentei não transparecer e não piorar a situação.
– Não. – eu disse simplesmente.
– É claro que não. – ele disse com um sorriso sarcástico.
Meu sangue ferveu. Odiava quando as pessoas eram indelicadas comigo e aquele senhor era demasiadamente indelicado. Ah, como eu o repudio! Ele não poderia ser educado como suas irmãs e cunhado? Ele podia ser belo, mas suas indelicadezas o deixavam feio. Tudo bem, talvez eu tenha mentido nesta ultima frase, pois ele era maravilhosamente belo e nada poderia deixa-lo feio, mas seus modos o deixavam desprezível o suficiente para não se querer qualquer convivência social.
– Venha. O almoço estará sendo servido em minutos. – ele disse e seguiu em direção à escada.
Eu fui logo atrás o seguindo, e logo ousei dialogar para saciar a minha curiosidade daquele homem tão...irritante.
– O senhor não gosta da luz do sol? Não gosta da claridade? Por isso coloca essas cortinas?
– Já lhe disse para me chamar de Edward. – ele disse sem parar de andar ou ao menos olhar para mim.
– Oh, sim, perdoe-me. – eu disse e ele continuou em silêncio. – E então?
– O quê? – ele disse ríspido.
– Não vai responder?
– A única coisa de que precisa saber é que deve permanecer longe das cortinas. – ele disse e vi sua expressão ficar mais séria. Não conseguiria mais nada pelo visto.
– Tudo bem. Eu posso andar lá fora quando quiser? Posso passear pelo pomar e colher frutas?
– Já disse que pode ir aonde quiser. Menos à...
– Ala oeste. – eu completei revirando os olhos. Já havia ouvido aquilo várias vezes no dia. – Eu sei. Mas por quê? Lá é seus aposentos?
– Não te interessa.
– É claro que me interessa. Se precisar falar com o senhor, como irei encontrá-lo? – eu disse tentando ressaltar o óbvio. Nunca se sabia, talvez um dia precisasse daquele rapaz tão bruto e era bom saber onde encontra-lo.
– Procure minhas irmãs e elas me chamarão. E já lhe disse para não me chamar de senhor. – ele disse visivelmente irritado.
– A decoração de seu castelo é peculiar, para não dizer grotesca. O macabro o atrai?
– Retrata bem o meu estado de espírito. – ele disse com um sorriso zombeteiro nos lábios.
– É por isso que escolheu essa decoração?
– Acho que é meio óbvio, já que lhe disse que retrata o meu estado de espírito. – ele disse rispidamente.
Eu fiquei irritada. Custava ele ser um pouquinho mais educado?
– Edward, porque és tão bruto? – eu disse e logo depois me arrependi por estar de certa forma lhe chamando a atenção.
– Meus modos a incomoda? – ele me olhou divertido e eu abaixei meu olhar corando envergonhada.
– Oh, bem, acho que incomoda todo mundo. Ninguém gosta de ser tratado com indelicadezas. Não gostaria de ser mais cavalheiro? – eu disse e o olhei ainda corada por estar passando um pouco dos limites.
– Não, eu não gostaria. Tenho minhas razões para ser assim, e garanto que a senhorita no meu lugar seria do mesmo modo. – ele disse e pude ver um pouco de tristeza em seu olhar que logo ele tratou de mascarar.
– E quais razões são essas? – indaguei não conseguindo segurar a minha língua.
E de repente eu me vi sendo prensada contra a parede. Edward mantinha seu rosto no vão de meu pescoço e eu podia senti-lo inspirar o meu cheiro. Um rugido pôde ser ouvido e percebi que esse rugido veio de Edward. Tremi de medo diante de algo tão estranho e inusitado. Senti seus lábios tocar meu pescoço me fazendo ter arrepios. Logo em seguida seus lábios estavam em minha orelha dando leve mordidas.
– A senhorita é muito curiosa. É melhor tomar cuidado Bella, não queremos que algo de ruim lhe aconteça por conta dessa curiosidade. – ele disse de modo divertido e sua respiração me causava arrepios involuntários.
De repente seu rosto estava diante do meu e seus olhos brilhavam demonstrando sua raiva. Ele segurou forte meu rosto entre suas mãos e senti lágrimas se formarem. Eu estava apavorada, com medo de sofrer alguma agressão.
– Para seu próprio bem, não se intrometa aonde não é chamada. Entendidos? – ele disse entre dentes e me olhou com cólera no olhar.
– S-sim. Por favor, m-me solte. Está me ma-machucando. – eu disse tremendo de medo.
De repente Edward pareceu relaxar, me soltou suavemente e me olhou com um pouco de culpa no olhar. Sua expressão parecia torturada e, como se fosse possível, ele parecia ainda mais belo.
– Vamos. Já devem estar servindo o almoço. – falou já andando pelo corredor sem olhar para trás.
Eu o segui de cabeça baixa e durante todo trajeto permanecemos em silêncio. Em pouco tempo em eu estava no salão de jantar, sentada em uma confortável poltrona acolchoada e com uma mesa farta à minha frente. Rose, Alice e Jasper já estavam sentados à mesa e sorriram ao me verem entrar. Eu os cumprimentei educadamente e logo depois permaneci em silêncio analisando o salão.
O salão era grande, com piso de mármore preto e um longo tapete vermelho abaixo da mesa de jantar de madeira. Havia lugar para doze pessoas na mesa e em uma das paredes havia uma grande lareira que não estava acesa. Um grande candelabro dourado residia acima e as janelas, como todas as outras, estavam tampadas por cortinas.
Edward sentou-se em uma das pontas da mesa. Alice estava logo ao seu lado, seguida por Jasper. Do outro lado estava Rosalie e ela parecia olhar impaciente para a porta. Eu havia sido colocada na outra ponta, o que dificultava um pouco a conversa.
– Esse salão é o salão de jantar familiar. É aqui que realizamos nossas refeições em família. Há um outro salão maior, com mais mesas, em caso de recebermos vários convidados. – Alice deu um suspiro de pesar. – Sabe, costumávamos fazer grandes bailes nesse castelo.
– É mesmo? – eu a olhei curiosa.
– Sim, eram os mais grandiosos de toda a região da Inglaterra e era eu quem os preparava. – ela disse sorrindo orgulhosa.
– Perdoe-me Alice, mas eu nunca ouvi falar destes bailes, muito menos deste castelo.
– Ah, querida, mas isso é de se esperar. Faz tanto tempo e você nem era nascida também. – Alice disse soltando uma risadinha.
– Alice! – Edward a repreendeu e ela se calou logo em seguida, ficando com seu semblante triste e sério.
– O que você quis dizer com eu nem era nascida? – eu a olhei confusa e Edward bufou.
– Nada de mais, Bella querida, só uma expressão. – ela disse sorrindo nervosamente.
Que expressão estranha, eu nunca havia ouvido. Será que até nisso eles eram diferentes?
– Há quanto tempo moram aqui?
– Há anos, nem me lembro quantos. – Alice disse parecendo um pouco saudosa.
– Eu nunca havia ouvido falar deste castelo pelas redondezas.
– Isso é porque não saímos muito daqui. Não interagimos com o mundo lá fora. – Rosalie disse com um olhar frio e distante.
– Desculpem o atraso. Acabei de chegar da cidade. – um homem bastante alto, forte, de cabelos pretos, olhos ocre e pálido disse abrindo a porta. Ele não deveria ter mais do que 27 anos e parecia estar muito cansado.
– Bella, esse é meu marido, Emmett. – Rosalie disse nos apresentando.
– Finalmente nos conhecemos. – ele disse se curvando um pouco para me saudar.
– Não é querendo ser indelicada, mas você veio da cidade?
– Sim, fui buscar algumas coisas que faltavam no castelo. – ele disse depositante um beijo carinhoso da testa de Rosalie e se sentando ao seu lado logo em seguida.
– Foi você quem levou meu pai? – eu disse com os olhos cheios de água da lembrança.
– Sim, eu o levei senhorita. – ele disse me olhando com cautela.
– Por favor, me chame de Bella. E como ele está? Está ferido? Está doente? O deixou em casa?
– Eu o deixei em sua casa sim. Estava febril e tossia muito. Uma senhora passava na hora e o viu, disse que era uma amiga e ficou para cuidar dele. Ele está bem Bella, garanto. – ele disse e eu soltei um suspiro aliviada.
– Provavelmente era a senhora Leah. – eu murmurei.
– Chega de conversa. – Edward disse bruto. – Podem começar.
– Não vamos esperar Esme? – Alice o olhou preocupada.
– Não. Ela resolveu passar o dia pintando. – ele disse um pouco aborrecido.
– Ela ainda está... – Rose tentou dizer mas foi cortada por Edward.
– Sim, está. – ele disse por fim e Rosalie assentiu.
Logo depois começamos a comer. Algumas empregadas entraram servindo vinho em nossas taças de cristais. Enquanto eu comia ficava imaginando quem seria Esme. Outra irmã, talvez? Aonde estaria os pais deles? Sem querer eu olhei para onde Edward estava sentado e reparei que não havia nada em seu prato ou copo. Seu olhar era distante, pensativo. Gostaria de saber o que se passava na cabeça daquele jovem mal educado.
De repente notei que ele me encarava e eu baixei o meu olhar para meu prato, corando por ter sido pega no flagra. Ouvi uma cadeira se arrastando e logo depois passos duros indo até a porta.
– Não vai ficar hoje? – Alice perguntou mas ele já havia se retirado.
Ela soltou um suspiro e voltou a comer seu faisão.
...
Após o almoço, Alice resolveu visitar Esme e saiu tão apressada que não pude perguntar quem era essa mulher. Jasper disse que iria dar uma olhada nos cavalos, enquanto Rosalie e Emmett subiram para seus aposentos. E eu? Bem, eu estava perambulando pelo castelo, afinal não tinha nada o que eu pudesse fazer no momento.
Tentei conversar com alguns empregados, mas eles não eram de muita conversa. Sempre me olhavam com aquele brilho de esperança e logo depois saiam correndo. Eu estava entediada. Já havia ido lá fora duas vezes para provar um pouco das amoras, que eram incrivelmente doces e suculentas, e já havia dado várias voltas no castelo. Sinto falta de um bom livro, isso me distrairia ao longo do dia. Eu adoro ler, um dos meus passatempos prediletos, mas nem sempre tinha dinheiro para comprar algum livro ou conseguia algum emprestado, já que a maioria das pessoas que eu conhecia não eram fãs da literatura. Acabava lendo o mesmo livro repetidas vezes só para ter a sensação de estar lendo algo. Pensei em pedir para Alice ou Rose algum livro emprestado mas não as encontrei. Pensei em passar um tempo no salão de música ou pintura, mas eu não tocava ou pintava.
Voltei aos meus aposentos e olhei pela janela. Já estava anoitecendo e eu ainda não havia feito nada de interessante. Depois de dar tantas voltas pelo castelo ele acabou se tornando sem graça para mim, não mais uma novidade. Foi então que me lembrei que havia uma parte do castelo que eu não havia visitado: a ala oeste. O que será que havia lá? Era demasiadamente grande para ser somente os aposentos de Edward. Demasiadamente grande para ser pega no flagra, eu pontuei. Então me decidi, iria inspecionar a ala oeste. Quem sabe não achava algo interessante? Talvez houvesse uma biblioteca por lá. Um castelo grande como esse deveria ter uma biblioteca.
Deixei meus aposentos e fui em direção à ala oeste. A cada passo que eu dava eu olhava para os lados tentando ver se não havia alguém e tentando fazer o mínimo de barulho. Em poucos minutos eu estava ao pé da escada que dava para a ala oeste. Inspirei fundo e comecei a subir. O lugar era como o restante do castelo, muito bem limpo e macabro. Havia várias portas ali e resolvi abrir uma porta grande de madeira com detalhes prateados. Abri cuidadosamente e olhei para dentro, constatei que não havia ninguém e entrei.
O lugar estava empoeirado. Haviam vários quadros ali, alguns eram de Alice e Jasper, outros de Emmett e Rosalie. Alguns eram de uma mulher de cabelos acobreados e longos, outros de uma jovem de cabelos ondulados e castanhos. Havia também uma pintura de um homem loiro com fortes olhos azuis. Percebi que nos retratos de Alice, Jasper, Emmett e Rosalie havia algo de diferente. Demorei para perceber que eram seus olhos. Os seus olhos nos retratos não eram ocre. Alice tinha olhos verdes, Jasper e Rosalie azuis e Emmett castanho.
Mas porque mudar a cor em um retrato? Antes que eu pudesse inspecionar melhor os quadros, eu vi que tinha outro mais ao fundo e ele estava todo rasgado. Me aproximei tentando juntar os pedaços para ver a imagem, mas ouvi um barulho ao longe. Parei sobressaltada, alguém poderia estar se aproximando. Ouvi o barulho novamente e percebi que era um gemido. Um gemido sofrido de dor e era de alguém que estava ali dentro. Será que alguém estava machucado, precisando de ajuda? Comecei a seguir o barulho e me deparei com um corredor longo que levou a um quarto. Estranho, porque haveria um quarto aqui? O quarto estava todo bagunçado, com móveis quebrados e algumas teias de aranha.
Estava muito escuro, a única iluminação vinha da luz da lua que entrava por um sacada. Ouvi o gemido novamente e percebi que ele vinha à minha esquerda. Olhei na direção e vi que haviam duas silhuetas em meio a escuridão. Forçando um pouco as vistas eu vi Edward segurando fortemente uma das empregadas em seus braços enquanto sugava seu pescoço. Um filete de sangue escapou por onde ele sugava e eu soltei um gritinho assustada. O que ele fazia com a moça? Edward na mesma hora me olhou com olhos vermelhos em brasa e soltou a jovem que foi ao chão desmaiada. Percebi que a jovem era Carmem. Seus olhos me deixaram apavorada e sem ver dei dois passos para trás esbarrando em um móvel. Edward me olhava com ódio, uma cólera que eu nunca vira antes.
– Por quê? – ele disse ríspido. – Por que veio aqui?
– Eu...m-me desculpe... – tentei dizer temendo que ele fizesse comigo o mesmo que fez a Carmem.
– EU AVISEI PARA NUNCA VIR AQUI! – ele bradou vindo em minha direção.
– Não quis causar mal. – eu disse tentando me afastar dele.
– FAZ IDEIA DO QUE PODERIA TER ACONTECIDO? – ele disse derrubando alguns móveis e lançando uma cadeira quebrada na parede.
– Por favor, pare! – eu disse em meio às lágrimas de pavor.
– SAIA! – quando ele disse isso eu consegui desviar dele e fui em direção ao corredor correndo. – VÁ EM BORA! – escutei ele gritando a plenos pulmões.
Eu chorava e soluçava enquanto corria apavorada em direção à saída do castelo. Enquanto eu abria a porta para finalmente me ver livre desse pesadelo, eu ouvi a voz de Jasper.
– Aonde você vai? – ele disse parecendo visivelmente preocupado e percebi que ao seu lado estava Rosalie e Emmett.
– Sei que prometi, mas não posso ficar aqui nem mais um minuto. – disse por fim saindo e fechando a porta.
– NÃO, ESPERE, ESPERE! – escutei Emmett gritar, mas eu não parei.
Continuei correndo, ainda chorando pela cena que presenciara minutos atrás. O que será que foi aquilo? Por que ele sugava o sangue daquela pobre jovem? E seus olhos, aquilo não era normal. Ele pretendia fazer o mesmo comigo? Meu pai tinha razão, ele não era humano.
Estava tão absorta em minhas perguntas que não reparei que já estava correndo pela floresta e que estava encharcada pela chuva que havia começado. Ouvi barulhos dentre as árvores e logo a minha frente surgiu um grande lobo negro de olhos amarelos. Eu estaquei paralisada. Ao seu lado surgiu mais três lobos que rosnavam e mostravam os dentes para mim. Antes que eu pudesse fazer qualquer movimento, eu vi um dos lobos saltar em minha direção.
Fechei os olhos, esperando pelo pior.
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