terça-feira, 24 de julho de 2012

Fanfic Capítulo 3 - Prisioneira

Postado por Mah da Cunha


Olhei atentamente para o vulto parado na escada e notei que a silhueta era de uma mulher miúda de mais para ser alguém mais velha do que eu. O medo se dissipou assim que eu constatei isso e fiquei feliz por ter sido acolhida por aquela gentil senhorita.
– Oh, obrigada por me abrigar da chuva senhorita. Se não for muito incomodo posso passar a noite aqui? Prometo não dar trabalho. Eu... senhorita? – eu disse quando notei que a silhueta se distanciava. – Senhorita... por favor... – mas ela pareceu não me ouvir e se distanciou mais.
Virei para trás e fechei a porta. A chuva estava ficando mais forte e, mesmo com a porta grossa de madeira fechada, eu ainda podia ouvir os trovões. Eu precisava ir atrás da senhorita e pedir por abrigo por essa noite. Não poderia voltar para a estrada tendo lobos a minha espera e uma tempestade lá fora. Fiquei irritada pela falta de hospitalidade e cordialidade da dama que desapareceu entre os corredores sombrios do castelo.
Subi as escadas tremendo um pouco de frio por causa das roupas molhadas. Notei que apenas alguns candelabros estavam acesos e, pela falta de calor no interior do castelo, eu diria que não tinha nenhuma lareira acesa. Cheguei ao topo da escada com dificuldade, pois meu joelho ardia muito e aparentemente o meu tornozelo esquerdo também havia sofrido algo já que latejava.
Chegando ao topo da escada eu segui pelo corredor que a senhorita havia desaparecido. Estava muito escuro ali, mas às vezes tudo se iluminava quando a luz dos raios da tempestade invadiam o corredor pelas imensas janelas de vidro. Durante esses segundos de luz, notei que os vitrais da janela eram repletos de desenhos de humanos disformes e demônios. Uma escolha peculiar, para não dizer estranha e assustadora. As paredes eram escuras, aparentemente um tom estranho de vinho. O chão era de mármore preto e estava bem lustrado. Havia algumas pinturas espalhadas ao longo do corredor de anjos caídos, demônios, santos sendo torturados e outras coisas grotescas que eu não fiz questão de analisar.
Era mais do que óbvio que aquele castelo não estava nem um pouco abandonado devido a boa limpeza e organização do lugar, mas eu ouso dizer que o decorador deste castelo tem sérios problemas com Deus. Se alguém da Igreja visse isso certamente o chamaria de herege e em pouco tempo estaria excomungado.
Continuei caminhando pelo longo corredor e ao chegar ao final encontrei uma bifurcação. Por onde a dama poderia ter ido? Olhei para direita e não vi ninguém, mas encontrei a silhueta feminina parada ao fundo do corredor da esquerda como se me esperasse.
– Senhorita, que bom que... – assim que eu comecei a falar a silhueta desapareceu novamente virando em outro corredor.
Fiquei irritada. Era a segunda vez que essa senhorita era indelicada comigo, com certeza ela não era nenhuma dama.
Continuei caminhando com dificuldade indo na direção em que a silhueta foi. Cheguei ao corredor em que ela havia desaparecido e notei que ao seu final havia outra escada e a silhueta estava lá em cima me aguardando. Assim que comecei a subir ela desapareceu novamente e eu começava a ficar com raiva da sua falta de modos.
Continuamos com esse jogo sem sentido por mais alguns minutos, e eu já havia desistido de chama-la há muito tempo. Ela parecia estar me guiando para algum lugar bem alto no castelo e meu joelho e tornozelo doíam mais do que nunca agora. Cada vez mais lenta eu andava, mas eu não parei. Precisava de abrigo e talvez aquela senhorita estivesse me guiando para algum quarto. Provavelmente seria um quarto de empregada, já que estávamos bem longe dos outros aposentos, mas qualquer coisa era melhor do que ficar na chuva ao relento. Talvez ela seja uma daquelas ricas que tem aversão a pessoas menos favorecidas e não queira ter nenhum tipo de contado comigo. Bom, pelo menos ela era bondosa em me dar um lugar para ficar.
Virei mais uma vez para outro corredor e a silhueta feminina me aguardava ao seu final. Ela abriu uma porta quando eu apareci e entrou. Eu a segui e encontrei mais escadas para subir. Minha irritação dobrou, mas não reclamei e nem chamei pela senhorita. Não queria correr o risco de ser expulsa do castelo. Queria saber quem era o dono desse castelo. Ela, talvez? Ou será uma governanta? Não, governanta são mais velhas, a silhueta é claramente de uma menina, talvez um ano mais nova do que eu.
Subi as escadas e cheguei ao seu final exausta. Olhei ao redor mas não consegui enxergar nada, estava muito escuro. Percebi que havia apenas um pequeno feixe de luz vindo de um ponto distante do lugar. Fui até lá e vi ser um pequeno candelabro com apenas uma vela acesa. Segurei-o e tentei iluminar um pouco o lugar, mas de nada adiantou. Percebi que havia outro candelabro ali perto e ao verifica-lo notei que era igual ao que eu segurava. Acendi a outra vela iluminando mais o lugar.
O lugar ficou mais iluminado, mas a diferença não foi muita. Olhando mais ao redor notei outro candelabro e mais outro a distância. Fui até eles e acendi todos que encontrei. No total eram oito candelabros espalhados pelo local, sendo que apenas um era grande. Agora mais iluminado, eu poderia analisar o local. No primeiro momento fiquei um pouco em choque e assustada. Eu estava em um calabouço. Ao fundo havia três celas com portas de madeira e uma janela sem vidro por onde entrava um pouco da chuva deixando o chão perto dali muito molhado. O local estava empoeirado, cheio de teias de aranha e com alguns ratos que passeavam tranquilamente pelo lugar.
– Senhorita, por favor. A senhorita está aqui? Preciso saber por que me trouxe aqui. – disse nervosa e com raiva da senhorita ter me guiado até aquele lugar horrível.
Por que me levara até ali? Por acaso pretendia me prender e me fazer sua prisioneira? Fiquei mais nervosa ainda ao notar que não havia ninguém ali, apenas eu. O que era muito estranho, pois eu não vi ninguém passar por mim.
– Senhorita? Onde está? – chamei mais uma vez.
– Bella? – uma voz rouca soou pelo calabouço me fazendo pular de susto. – Bella, é você? – a voz soou novamente parecendo ser muito familiar desta vez.
– Papai? – eu disse receosa.
Em baixo das portas das celas havia um vão por onde se passava a comida para o prisioneiro. De lá eu vi aparecer uma mão e depois um rosto, o rosto de meu pai.
– Papai! – exclamei surpresa e horrorizada.
Fui até lá e me agachei com dificuldade à sua frente e coloquei o candelabro ao meu lado. Segurei a sua mão que estava muito gelada e quase imediatamente ele começou a tossir.
– Papai! O que está fazendo aqui?
– Bella, como me achou? Não importa. Preciso que saia daqui antes que ele a capture também.
– Ele quem? Não vou deixar o senhor.
– Bella, eu preciso que vá. Há um homem nesse castelo e ele não é humano! Ele me capturou enquanto eu fugia dos lobos e me refugiava em seu castelo. Ele me aprisionou por invadi-lo e eu olhei bem em seus olhos, ele não é humano Bella! Vá embora, vá antes que ele a descubra. – eu olhava confusa para meu pai que não falava nada racional.
Toquei em sua testa e percebi que ele estava queimando de febre. Ele estava doente e possivelmente delirando por causa da febre, só isso explicaria sua conversa sem sentido. Um vento gelado invadiu o calabouço apagando a maioria das velas. A iluminação agora estava precária e eu mal via o rosto de meu pai, mesmo com uma vela por perto. Ele começou a tossir novamente e percebi que se ele ficasse muito tempo ali naquele chão frio ele poderia piorar e até mesmo morrer.
– O senhor está doente, preciso tirá-lo daqui... AH! – soltei um curto grito de susto assim que senti mãos geladas me puxando pelos punhos.
– Bella! Deixe-a em paz seu monstro! – meu pai bradava de dentro da sua cela e logo depois ele começou outra crise de tosse.
Olhei para frente tentando encontrar o dono daquelas mãos frias que seguravam meus pulsos tão fortemente, mas nada pude ver na escuridão, apenas uma silhueta masculina bem alta e, aparentemente, bem forte.
– O que faz aqui? – ele disse como uma voz aveludada e forte.
Eu a consideraria a voz mais bonita que já ouvi se ela não estivesse preenchida pela raiva.
– Eu... eu fugi de lobos e me escondi no castelo. Encontrei com uma senhorita e ela me guiou até aqui.
– Não deveria estar aqui.
– Quem é você? Por que mantém meu pai aprisionado?
– Eu sou o dono deste castelo e seu pai o invadiu, assim como você, senhorita.
– Oh, mas não vê que ele está doente? Ele pode morrer se ficar aqui. Por favor, solte-o.
– Ele não deveria ter invadido! – o homem disse com mais raiva.
– Não foi por querer, por favor, eu faço o que quiser.
– Não há nada que possa fazer, ele é meu prisioneiro. Se não quiser ser uma, sugiro que vá embora imediatamente. – ele disse me jogando no chão frio do calabouço.
Com a queda eu esbarrei no candelabro levando-o ao chão e fazendo a vela se apagar logo em seguida. A escuridão estava maior ainda e o calabouço só se iluminava um pouco quando a luz dos raios entrava pela janela. Ouvi os passos do homem se afastando e comecei a sentir um desespero em imaginar meu pai jogado para morrer em sua cela.
– Espere! – chamei-o desesperada.
– O que é? – ouvi seus passos se aproximando devagar.
– Eu fico no lugar dele. – disse firme. Eu era mais jovem e com certeza resistiria mais àquelas condições. Meu pai não merecia morrer aqui.
– Bella, não! – meu pai começou a dizer mas logo começou a tossir novamente.
– Você quer que eu a prenda? – a voz do homem agora era mais calma e mesmo no escuro eu sentia que ele me analisava.
– Se eu ficar, o senhor o deixa ir?
– Bella, não faça isso! Já estou velho, já vivi minha vida.
– Deixo, mas com uma condição. – o homem disse rudemente.
– Qualquer coisa. – eu disse já tentando me conformar com a minha futura situação.
– A senhorita deve me prometer que vai ficar para sempre. – estranhei o seu pedido, mas de qualquer maneira eu não tinha escolha. Eu precisava de meu pai livre e bem.
– Tem a minha palavra. – eu disse por fim.
– Feito. – os passos do homem passou por mim e escutei uma fechadura sendo aberta.
– Bella, não faça isso minha querida. – meu pai disse caído ao meu lado.
Eu tateei no escuro até encontrar suas mãos trêmulas e geladas.
– Não se preocupe papai. Tudo vai acabar bem.
– Bella, minha filha... BELLA! – meu pai gritou e senti que ele estava sendo puxando para longe de mim.
– ESPERE! ESPERE! – eu gritava tentando ir atrás do vulto do homem que arrastava o corpo de meu pai escada abaixo.
Eu já não podia mais ver nenhum vulto. Desci as escadas e encontrei a porta lá em baixo trancada. Subi novamente em prantos e ao longe pude ouvir os gritos de meu pai. Corri para a janela da torre e lá em baixo vi um homem com vestes negras arrastando meu pai até uma carruagem.
– ME SOLTE, POR FAVOR, MINHA FILHA!
– NÃO TEM MAIS NADA COM ELA. LEVE-O PARA A CIDADE! – o homem gritou logo depois de jogar meu pai na carruagem e trancá-lo lá.
A carruagem logo se pôs a andar em uma alta velocidade, sendo puxada por dois cavalos negros. Eu logo a perdi de vista, sumindo por fim em meio à tempestade e a floresta. Eu me joguei no chão do calabouço e me pus a chorar. Chorei por não me despedir de meu pai, por nunca mais poder vê-lo e por estar presa em uma torre gelada e úmida até o fim de meus dias.
Escutei a porta lá em baixo ser destrancada e o som de passos subindo. Eu tremi de medo antevendo que agora seria a hora em que seria trancada em minha sela. Chorei mais alto ainda e não conseguindo conter minhas emoções disparei a falar.
– Não consegui dizer adeus. O senhor não me deixou me despedir e eu não vou vê-lo outra vez. – um silêncio se fez por alguns minutos e eu tentei enxergar algo em meio a escuridão e as lágrimas.
Vi que o homem estava perto da escada. Ouvi seus passos e logo vi uma vela ser acesa. O homem se aproximou com um candelabro em sua mão e agora eu podia ter uma maior visão de sua aparência.
Ele usava vestes totalmente negras, e pareciam ser antigas, muito antigas para o nosso tempo. Um pouco de água pingava por suas mangas. Ele devia estar encharcado por causa da chuva forte que tomou. A parte mais iluminada era sua mão e percebi que sua pele era bastante alva, até mais do que a minha. Suas unhas eram um pouco alongadas e pareciam ser afiadas, mas eram incrivelmente lustrosas. Ele era alto, muito alto, e era bem forte como eu supura. Seu rosto estava encoberto pela penumbra mas eu consegui notar que era bem másculo e seus traços eram muito fortes. Eu queria ver os seus olhos, mas aparentemente eles continuariam ser um enigma para mim.
– Vou lhe mostrar o seu quarto. – eu o olhei incrédula. Do que ele falava?
– Meu quarto? Mas eu pensei que...
– O quê? Prefere ficar na torre? – ele disse com uma voz fria e rude me fazendo ficar com um pouco de medo.
– N-não. – eu disse um pouco tremula, tanto por frio quanto por medo.
– Então venha comigo. – ele disse por fim virando-se de costas.
Eu levantei com dificuldade e me apressei em segui-lo. Logo estávamos percorrendo um dos inúmeros corredores daquele grotesco castelo. Em todos os cantos eu encontrava os olhos de gárgulas e pinturas macabras me observando. Seguia o homem em silêncio e às vezes analisava-o um pouco.
Seu andar era firme e razoavelmente lento. Provavelmente ele notara que eu não conseguia acompanha-lo direito. Ele andava elegantemente ereto, alguém que tinha bons modos, com certeza. Bom, em parte, já que ele não tratou eu e meu pai com cordialidade. A lembrança dele jogando meu pai na carruagem fez a vontade de chorar voltar mas eu tentei ao máximo segurar as lágrimas.
Olhei para o homem a minha frente que seguia em silêncio novamente e analisei seus cabelos. Estavam molhados por causa da chuva e aparentemente eram escuros. Eram lisos, e as mechas pareciam estar bagunçadas.
Não demorou muito e chegamos a um corredor que possuía várias portas ao longo de sua extensão. Ele se dirigiu até uma delas e abriu, ficando parado ao lado da entrada.
– Esse é seu quarto. O castelo é seu lar agora, pode ir aonde quiser, menos na ala oeste. – ele disse friamente e indicou para que eu entrasse no quarto.
– O que há lá?
– É PROIBIDA! – ele gritou me fazendo dar um passo para trás assustada.
Havia perguntado curiosamente e ao mesmo tempo tentando conseguir mais informações, se soubesse que seria tratada com tanta indelicadeza teria ficado de boca fechada. A falta de modos dos habitantes desse castelo estava me irritando profundamente.
Entrei no quarto e logo em seguida ele me estendeu o candelabro. Peguei-o e olhei para o homem a minha frente que segurava firmemente a maçaneta da porta.
– Em alguns minutos alguém virá aqui para auxiliá-la e ajudá-la a se aprontar para o jantar.
– Jantar? – eu disse surpresa e no mesmo momento meu estômago roncou me lembrando de que a muito não me alimentava.
– Sim, você vai jantar comigo. E isso não é um pedido. – dito isso o homem fechou a porta com força fazendo um alto estrondo.
Eu coloquei o candelabro em uma mesa ali perto e analisei o quarto. Era grande, estava limpo e bem arrumado. Havia uma lareira de mármore branco no canto que eu desejava estar acesa. Sentei-me na cama e analisei a colcha. Era do tecido mais macio que eu já havia sentido, algo muito caro, com certeza. Parecia ser de um tom azul, mas eu não podia dizer pois estava muito escuro. De repente percebi que lágrimas escorriam pelo meu rosto e comecei a chorar baixinho. Eu estava condenada a passar a minha vida presa em um castelo escuro, frio e sozinha.

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